quarta-feira, 11 de maio de 2011

Devaneios Inerentes a Nada Nº ---

Frio. Desespero. Medo.

Os passos ecoavam apressadamente, por algum lugar que imaginava ser de minha mente completamente descontrolada. Meus olhos corriam a escuridão, na esperança de identificar a fonte de todas essas emoções.

Mas nada. A confusão havia se instalado de uma forma natural e displicente, como se vivesse comigo a muito tempo.

Muito barulho. Meus ouvidos estão zunindo, minha garganta travada, uma respiração ofegante e nada de auto-controle.

Eu penso em grunhidos. Não consigo distinguir nada. Quem sou. O que está havendo.

Quanto mais eu penso, mais dúvidas vem a minha mente, e cada dúvida acende a chama de uma dor. As dores vem em ondas, por várias partes do que eu acho que restou do meu corpo. Pensar é uma atividade torturante.

Percebo que lentamente vou recuperando os sentidos, e com todos eles voltando, tudo o que estou perdendo também volta. A dor parece nunca ter ido, na verdade. Meu estômago expulsa algo que acredito ser sangue.

O gosto de metal na minha boca é a sensação mais real que possuo no momento.

Finalmente percebo que estou deitado.

Ainda sinto minhas pernas, meus braços, minha cabeça.

O barulho agora se tornou algo repetitivo. Um som retumbante, lá no fundo da minha mente.

Quando finalmente abro os olhos, mais dor. A luz entra através de agulhas pelos meus olhos. Eles estão embaçados em vermelho. Os sons, outrora batidos e rítmicos, vão tomando forma.

Sirenes.

A dor se afasta um pouco, dando lugar ao calor. Um calor bom. Envolve todo meu corpo. Meu peito se mantém gelado. sinto algo refrescar minhas costas. Uma goteira, talvez.

As luzes agora dançam. Meus olhos vêem vultos, sombras, uma luz dançante e irriquieta.

O barulho agora é insuportável. A cada nota meu corpo recobra uma sensação de emergência intesa, que vai crescendo com o tempo.

Minha memória começa a dar sinais.

Vejo meus punhos enfurecidos, vejo minha arma dançando no ar a minha frente, vejo sangue, vejo cortes.

Cada palavra de ódio, cada sorriso de desdém, cada pedido de clemência, cada por favor. Tudo retorna como um dilúvio mental.

Eu matei todos eles, e não devia estar vivo. Sinto que estou vazando em algumas partes do corpo, e o sangue sai a uma velocidade que consigo sentir. Se eu ainda estou vivo, não vai ser por muito tempo.

Agora a dor vem em ondas, cada vez menores. Facas retiradas uma a uma do meu cérebro. Meus olhos já estão focados na terra batida, e as luzes intermitêntes ao fundo. Um vermelho irritante.

"Que merda."

São as minhas primeiras palavras, e elas saem juntamente com um galão de sangue acumulado na minha traquéia. Percebo que ainda possuo controle do meu corpo. Mas um corpo que outrora foi meu, pois este pesa mais do que um planeta. Após me sentir como Atlas, fico de joelhos. Um pote quebrado. Eu poderia ser o Hellboy agora.

O barulho é ensurdecedor. Fecho os olhos. Tento me lembrar do que aconteceu.


Mas existem coisas que simplesmente deveriam ser esquecidas, simplesmente porque é mais fácil esquecer.