terça-feira, 4 de setembro de 2012

Vocês irão ouvir o som do meu despertar.


'Esta é uma história de ficção; qualquer semelhança com acontecimentos reais é mera coincidência. Se você se sente ofendido mentalmente por histórias que provoquem repulsa psicológica ou trabalhem com religião ou crenças quaisquer de maneira grosseira, peço que não leia esta história.'

Capítulo 1

-tec, tec... tec...

  Observo a tela por alguns segundos, me forço a procurar algo que prenda meu interesse, algo que consiga querer realmente assistir. Mas não há nada. Novamente o som do controle remoto flutua o ambiente. Não há nada que me atraia na TV. Alguns capítulos de séries repetidos, filmes desgastados, canal rural e peitos censurados. Eu até penso se vale a pena ver alguma pornografia, mas... não estou no clima para histórias de pizza e nem atuações de plástico. Hoje estou exigente.

  Então algo clica minha mente. Em algum canal de documentários, estão mostrando relatos sobrenaturais. Espíritos, fantasmas, demônios. Odeio essas coisas. Me deixam nervoso, ansioso por alguma razão. Eu não mudo de canal.

-..."a história é baseada em fatos reais, até hoje, sem explicação científica."


  E aí está. Sempre existem relatos, mas nunca provas. E é isso que me deixa nervoso. Eu até quero acreditar, mas não consigo. Parece que tem alguém atrás desta porta na minha mente, e ela não vai conseguir abrir de forma alguma.

  Me coloco pensando no pós-vida. Deve ser uma parada realmente chata, se dá vontade de sair de onde quer que seja, provávelmente outra dimensão, chegar nesse planeta bastante mais ou menos, denovo, e ficar dando sustinhos, mechendo objetos, falando obcenidades, dentre outros, para os transeuntes. Tirando-os da cama, fazendo eles chamarem outras pessoas que também não tem nada para fazer, principalmente de canais de TV paga que não tem tanta audiência assim, para depois não ter como provar o que aconteceu, ou como, ou porquê.

  Pensando bem, deve valer a pena, de alguma forma. Acredito que os humanos são a piada pronta da galáxia e do multiverso, graças ao Douglas Adams.

E então ocorre o teatro. A dramatização televisiva dos 'relatos do além'. Eu quase mudo pro pornô, em busca de alguma emoção humana genuína. Acho que o problema é a distância da minha realidade. Não dá para acreditar que isto aconteceu com aquela pessoa. Simplesmente não dá. Por que ela? O que ela fez? Por quê não eu? Como eu lidaria com essa situação?

  Blá. Meus amigos me contam histórias. Algumas assustadoras. Mas são meus amigos, logo, estou predisposto a não acreditar neles.

  Eu já me questionei sériamente o que eu faria nas mais adversas, mortais, tristes e complexas situações. Na maioria, termino sempre herói, famoso, incrível. Não consigo confiar nem na minha mente para este tipo de coisa.

  E os meus esforços para esse raciocínio só demonstram uma vontade enorme de fugir da realidade, explodir essas correntes do mundano e me tornar um conhecedor do além, do incerto, do único, do proibido.

  Algo de extraordinário aconteceria, eu finalmente abriria a porta da minha mente... Automáticamente tudo que é fantastico, mitológico, tudo que eu já cogitei a existência secreta... O irreal seria verdade, de repente. De um segundo para o próximo, eu teria a certeza de que vampiros, goblins e sahagins convivem conosco e... está na hora de dormir. Eu realmente me empolguei demais.

  Lentamente, bocejando, vou chegando ao meu quarto. As imagens vão se formando na minha mente, como se eu não fosse dormir, e sim escrever uma história. Uma sacudidela no cérebro, me convenço a finalmente me deitar. O corpo se demonstra cansado, para o desespero da mente, que parece ter medo de se desligar. Olhos fixos no teto. Silêncio. As pálpebras fica lentas. Mais um bocejo. Um arrepio. E quando eu abro os olhos, vejo algo que não devia estar lá. O sangue congela no peito, o grito morre na garganta, os olhos não conseguem mais piscar.


"Que tal realizarmos seus desejos?"

  Aquele sorriso, aqueles olhos frios. Em menos de 10 segundos eu sabia que, pro resto da vida, eu jamais iria esquecer.