terça-feira, 3 de setembro de 2024

Eu preciso te esquecer

 Mas é impossível. Dificuldades: Seu sorriso fácil. O jeito que você conversa demais. Sua necessidade de conversar enconstando. Sua risada pra trás. O jeito que você dança quando alguma coisa que você gosta acontece. Suas caretas. Sua seriedade pra contar histórias e fofocas. Sua alegria genuína com todas as pessoas. Sua boa vontade. Seu coração que transborda por entre as frases. Sua vontade de mudar o mundo um dia de cada vez. Linda, linda, linda. 

Facilidades: Você não gosta de mim o quanto eu gosto de você.

Pronto, simples. Um não quer, dois não brigam. Por quê é tão difícil só te deixar ir? Já estou a um bom tempo, me lembrando todos dias, a todos os momentos, que você nunca vai querer nada comigo. Eu tento me afastar, tento me deixar quieto pra esquecer, mas todas as vezes que você aparece, é um sol gigantesco de dopamina, toda minha vontade inexistente se levanta do sono de eras, eu até consigo sorrir de verdade na sua presença. 

Dói demais. Saber, ter essa certeza de que você nunca vai me ver com esses olhos, me aperta. Todos os dias, a todo momento, sou eu tentando me conformar em viver essa realidade. Eu queria parar de sonhar. Eu preciso parar de sonhar, firmar o pé na minha vida e seguir em frente. 

Eu preciso te esquecer. Mas o maior obstáculo é você. 

Eu quero te esquecer, Eu vou te deixar ir. Vou arrancar essas raízes e deixar de beber essa água. De alguma forma, de algum jeito, em algum momento. Eu vivo torcendo por um céu nublado. 

Me deixa eu te esquecer.

Crescer foi a maior cilada que já me venderam.

quinta-feira, 15 de agosto de 2024

Ciclo

Enquanto caminho nessa floresta densa

notando cada ferimento, cada machucado, cada folha que rasga o olho

lembro a todo momento que a decisão de entrar aqui foi importante

porque eu não podia mais ficar em cima do muro

decidi adentrar, ignorando as dificuldades, tentando ignorar as dores

a todo momento eu penso que posso parar e voltar

tentar novamente, outro caminho, e não sozinho

mas a decisão de se manter só vem forte, resoluta

fraqueja a cada passo

as possibilidades se misturam a cada respiração

mas eu não tenho força de vontade para voltar e tentar denovo

eu consigo claramente ver que eu queria

não fui feito pra solidão

tenho a certeza de que sozinho eu não machuco outrém

não vou conseguir passar por isso sozinho

não vou desistir

essa escolha eu já fiz 

terça-feira, 16 de julho de 2024

Carta aberta ao meu progenitor

 Opa Marcelino, tudo bem?


Então, vou tentar ser sucinto e evitar desperdiçar seu tempo, que desde que nos conhecemos sempre foi muito valioso. De cara já digo que você só precisa ler este primeiro parágrafo, o resto sou eu destilando esse veneno podre que me consome provavelmente desde que me entendo por criança sem pai. Eu te perdôo por absolutamente tudo. Você foi um pai ausente, tivemos nossos momentos, mas infelizmente passou. Sou um homem de 35 anos, não sei quantos anos você deve estar agora, mas de toda forma, obrigado por tudo que vivemos, agora podemos seguir nossos caminhos separados, como sempre deveria ter sido. Não vou te cobrar qualquer tipo de responsabilidade, retroativa ou atual, só quero distância. Eu te perdôo, mas este é o limite do meu bom senso. Não preciso ficar com o resto da sua presença na minha vida. 


A última vez que nos falamos cara a cara, fazem o quê? uns 8 anos? talvez mais. Brasília ainda. Voltando do seu trabalho para sua casa, conversando sobre como minha mãe e as mulheres da família Braga eram terríveis. O clima estava agradável e descontraído, acho que você se sentiu confortável comigo pela primeira vez na vida, e resolveu me contar que eu não fui planejado, mas ainda mais, que você queria que minha mãe tivesse abortado. Eu te ouvindo, incrédulo, e você me contando ali, em uma seriedade digna de político, o quanto meu nascimento foi um evento não agradável para sua vida. 


Compreensível, afinal, você fez a escolha sensível de apenas ir embora, "a trabalho", traiu minha mãe, arrumou outras mulheres, se separou, e achou justo me ver "quando desse." Olha, eu não vou te cobrar nada aqui. Como eu disse antes, eu estou colocando pra fora esse câncer que me consome a vários anos. Eu não te culpo, você fez as decisões que você achou melhores, ou até plausíveis para o seu contexto, o dano que eu levei foi de tabela, mas infelizmente ele existe. 


Logo depois dessa conversa, que infelizmente lembro muito mais do que eu gostaria, e até chorava bastante de lembrar, eu fiquei pensando no quanto eu estraguei a sua vida, e a vida da minha mãe. Mãe essa que pegou essa responsabilidade de me criar sozinha, e fez o melhor que ela pode, e novamente infelizmente, cresci esta merda, mas ela não tem toda culpa. Como eu, uma criança, poderia ter me portado melhor, ter feito ainda mais pra não dar trabalho, não gastar, ser uma criança de pouquíssimos gastos? Ouso dizer que eu fui muito bom nisso. Conti minhas vontades, aceitei que não teria o que os outros tinham, engoli muito choro, muita fofoca, muito dedo na cara. Responsabilidades que não cabiam a uma criança, mas que com um tapa na cara e a voz elevada eram jogadas pra mim, e eu sofreria todas as consequências por não arcar com elas.


Infelizmente eu me peguei imaginando um futuro com um pai presente, como meus amigos e família. As coisas que eles aprenderam, as coisas que eles não foram obrigados a aprender, as vezes em que não tive ninguém para poder fazer uma pergunta. As vezes que eu não sentia que poderia ter um adulto pra me explicar, pra me dar um abraço, pra me fazer entender sem apanhar. Isso me foi podado, muito cedo. Hoje eu vejo o quanto isso me deixou amargo. Acho que essa é a primeira vez que transpareço isso com palavras, e já passou muito da hora. 


Eu tenho vergonha de ter dito a minha mãe, que queria ficar com você, quando eu tinha 7 anos. Afinal você era o pai legal que só aparecia nas minhas férias, me levava pra passear, me dava uns chocolates, e ia embora me deixando com o buraco enorme da responsabilidade, Como eu poderia saber que isso era algo ruim? Como eu poderia imaginar que você já tinha me abandonado ali, já tinha outras vidas, outras crianças, e você deliberadamente escolheu me deixar de lado. Fazendo o mínimo pra que minha mãe não te cobrasse uma pensão, e este é outro ponto em que você venceu. Eu fico abismado, agora adulto, vendo e analisando nossas mínimas interações. O quão rasas eram nossas conversas. O quão nada você participou da minha vida. Ouso dizer que você não esteve presente em nenhum dos meus momentos como homem. Aprendi a fazer a barba sozinho. Aprendi a conversar com as meninas sozinho. Aprendi a dirigir sozinho. Aprendi a trabalhar sozinho. São tantos aprendizados, que ouvia pasmo os relatos dos meus amigos, e ficava completamente inconsolável de imaginar, como deve ter sido não fazer essas coisas sozinho. Como deve ter sido ter alguém pra ensinar o mínimo, mostrar um caminho das pedras, amaciar os erros. Alguém pra apoiar nos erros. Alguém pra abraçar nas tristezas. 


Em uma das suas raras visitas aqui em Belo Horizonte, lembro de ir na casa dos seus amigos, e alguém, que particularmente acho que você gostaria que fosse mais seu filho do que eu, te perguntou algo como "e a mulherada em marcelino?" E você teve a brilhante idéia, achou mesmo que seria de bom tom, dizer que estava uma maravilha, e com certeza muito melhor que a minha, já que eu era "feio igual a minha mãe". Uma das minhas únicas certezas no mundo, é que você nunca, nunca vai saber o real efeito das suas palavras em mim. Eu já esqueci violências contra minha pessoa, inenarráveis, mas o seu sorriso quando você desdernhava de mim está marcado pra sempre na minha memória. 


A única memória afetiva que tenho sua, é uma vez que fomos ao cinema, e você arrotou alto. Eu lembro de rir bastante. Marcelino, a sabedoria que você deixou pra mim, é como não agir. Como não se portar com uma criança. Que eu não deveria ter um filho. Te digo com toda certeza, o maior medo da minha vida, é ser um pai como você. Morrer é fichinha perto da dor de imaginar meu filho com esse tamanho de dor no peito que eu ainda carrego. Por todo esse tempo eu não tive coragem de falar nada com você, porquê eu sabia que eu não teria absolutamente nada de bom pra falar. Eu não quero nada seu, nem hoje, nem amanhã, nem no passado. Não sei o porque você quer voltar pra minha vida, agora que você é um pastor, se está corrigindo seus erros, olha, considere corrigido. Como eu disse ali em cima, eu realmente te perdoo por tudo. Mas não entre na minha vida denovo, por favor. Agora que eu já aprendi a a viver sem você, não tenho apreço nenhum por sua presença. É tarde, mas eu estou te dando esse presente, eu me abortei da sua vida. Me esqueçe. Me deserda. Um filho que está morto pra você. Infelizmente levarei seu nome comigo, porque também só consigo ver o quanto minha mãe te amava ao colocar meu nome de Marcelo. Mas você venceu. Seu filho se virou com o mínimo e não precisa de mais nada seu. Se você quiser que eu assino alguma coisa, assino demais. Não quero sua herança, não quero seu nome, quero que você fique longe. Viva sua vida finalmente sem culpa, sem cargas. 


Eu só tenho o passado pra contar aqui e amargar, e sinceramente, não me importa se você mudou, o que raio quer que tenha acontecido com você nesses anos que ficamos ausentes um da vida do outro. Por favor, me respeite apenas uma única vez na minha vida, e me deixe ir. Eu estou cortando o que restava, é só você lembrar que você já me abandonou bem quando eu nasci. 


Tenha uma excelente vida, e agora ainda mais espetacular sem o Marcelo. 


Adeus, Marcelino. 

sexta-feira, 21 de junho de 2024

Close friends

We kissed.

profoundly and electrifying

We were just talking; suddenly we were laying down and our faces got close

too close for comfort

the first words out of your mouth were

this is wrong; this is bad; we shouldn't;

bitterly, I agreed

we took off our clothes and mingled until we were covered in sweat

When I woke up, I almost threw up

that felt so bad that I got physically ill

I felt as if all the salt of this sea of myself dried my mouth in an instant

I shouldn't be seeing you when I sleep

what kind of nightmare distorts reality in such a way, roots deep and sharp, enfolding my missing heart

I could swear, thought for sure that I'd never think of you again

I've been clean for so long, you chose the day of all days to be on my mind, after all this time, for nothing

I have no love for you, and this lust is not tempting enough

there are a lot of sharks in the water and I have been bleeding for a while

for now, I don't care if they won't bite

but, if there is a piece of you inside me here, somewhere

find your way out, or the piece they'll take will be you  

and I'll gladly let them

segunda-feira, 17 de junho de 2024

Self portrait

I am a small, weak, coward man.

I can't fight any own fights. I choose to flee every time. I don't like imposing. I don't like bothersome things.

I hate that some people have me figured out, even if I don't agree with what they surmised.

Spineless.

Freeloader.

Dumb as bricks. Stupid as they come. Dullest tool in the shed. 

I can't fight for myself, for my future, for my life. I am waiting for the wall at the end of the tunnel.

I don't want to suffer. I don't want to work. I don't want to improve. I want it all for free.

I want all of you gone.

I hope it ends, every day.

My smiles are all fake. I have no strength. No reason, no will, no hope. 

Absolutely hopeless.

Embodiment of hopelessness.

Avatar of misery. 

Contempt in a trench coat.

Living hubris

A clown pretending to care, pretending to live, pretending to have a little value

Worthless

sexta-feira, 7 de junho de 2024

Ode il delirium

Quando eu abri minha caixa torácica

Um esforço moderado, confesso

Me surpreendi mais com a poeira

Do que com meu sangue morno

Após o estalo ósseo inicial

No silêncio, ansioso pelo tesouro

Dava até pra ouvir as batidas

Mas se confundiam com meu ranger de dentes

Um coração lá, encaixado

Sobrevivendo de água, luz e talvez fúria 

Uma vontade distinta, minguante 

Alienígena 

Não era o meu 

Ainda perdido a mortes atrás; 

Quando o delírio passou 

Voltei a me surpreender com a sua expressão 

Se antes era exasperada

Curiosa

Agora era apenas desdém 

"Eu só queria saber como você 

Ainda funcionava, nesse estado 

Bem patético, por sinal"

A dor não me espanta mais

Meus músculos tremendo pelo esforço 

O sangue já quase gelado

Eu me fecho

Evito por um milagre um desmaio

Mas sorrio

"Eu já sabia", minto;

"Quando você sair, por favor

Tranque a porta"

eu não me importo 

Tanto assim de me mostrar

acho que não me importo 

De estar numa sobrevida confusa

realmente não me importo

Se tem como eu me machucar mais

Não vou nunca, deixar de me importar

Se já morri 

Porque não 

denovo, mais uma vez

Ao vento, ao norte, ao carvão 

Às minhas cinzas

Às brasas mornas da minha forja

Às lágrimas que não vão pro meu rosto

Às palavras que não passam da garganta 

À dor que não transparece na íris 

"Quem sabe da próxima vez"

Suas costas já parecem mais acolhedoras

Do que seu abraço.

De qualquer forma

Obrigado mais uma vez

Não volte sempre

Tente me esquecer

A sua tatuagem está atrás do meu pulmão 

Se eu não olhar lá 

Não vou pensar em você 

Hoje, agora, deitado, na cama

Nem depois, repetindo

Leve-se de mim

Na cabana solitária, meu ego me ensina

Onde foi que errei

Por quê eu acreditei 

Como eu deixei me levar

Sozinho, denovo

Com sombras, luzes e fumaça 

Fogo fátuo 

Dessa vez eu não sorrio mais

Mas em outra sombra revisitada eu vejo

Seus galhos retorcidos

Seus olhos de lua

A terra por entre seus tendões 

Seu braço, me apontando ao buraco 

"Você devia ter ficado aqui"


ode il delirium

mors corpori est colossus

domingo, 12 de maio de 2024

what to do

 What do you do

when you don't want to do anything

but when you are alone

crying in the dark

it comes to you as easily as breathing

I do nothing