sábado, 22 de março de 2025

Melancolia

 Hoje eu vi no tiktok, nossa melhor fonte de conhecimento atualmente, que melancólicos são pessoas que demoram muito pra digerir emoções. Pessoas que sentem demais, e por isso, o ambiente em que vivem é absorvido de uma forma atípica. 

Eu me identifiquei bem. Eu choro muito fácil, mas não é pq eu sou manteiga derretida, é pq realmente, quando a emoção bate e eu me perco ali na digestão, tudo sai pelo olho. Hoje em dia eu ando tão cheio que tudo me transborda. E lembrar de uma cena triste, é ver uma história triste, uma emoção forte, um esforço forte, tudo me leva as lágrimas. Claramente isso não é normal. Chorar assim não é normal. E eu poderia falar que é por pouca coisa, q eu choro por bobagem, mas não. Meu coração infla, o peito aperta, a lágrima é um alívio pra uma coisa que eu não consigo, realmente, literalmente, digerir. Eu não sei interpretar aquela emoção de outra forma a não ser o choro. E se eu choro ali, eu posso ter a certeza que vou ficar remoendo o que quer que seja, por muito tempo.

Pelo que eu escrevo aqui, dá pra ver claramente o quão quebrado emocionamente eu sou, mas eu fico pensando muito, aonde isso começou? Onde foi que meu termômetro estragou, que meu estômago de emoções parou de funcionar? 

A depressão me veio silenciosa e mortífera. Quando eu percebi que estava me isolando, não queria conversar nem fazer nada, só deitar e me deixar apodrecer, quase foi muito tarde. E nessa fossa, eu tomei muitos chutes simultâneos na costela, pra eu lembrar sempre que tudo pode piorar. Eu literalmente perdi minha vida, tudo mudou, a forma de viver, de interagir, de existir. De um dia pro outro nada era a mesma coisa, e tudo era amargo e afiado. 

Mas caindo no poço ainda, quando eu não tinha idéia das paredes que velozmente me cercavam e me enterravam na terra, eu reconheço bem dois chutes: Dark souls e O aprendiz de assasssino; Robin Hobb, eu nunca vou te perdoar pelo que você me fez pensar. 

Começando por Dark souls, em um gameplay extremamente longe de ser divertido com meus até então amigos, eu me peguei entalado com alguns pontos que claramente eu não digeri até hoje. Dark souls trata, e eu vou tentar falar sobre isso aqui bastante superficialmente e na minha visão pessoal, sobre como a falta de propósito destrói nossa alma. 

Desde o primeiro momento de entendimento, quando nosso personagem vê isso acontecendo com as pessoas ao redor, aquilo me amargurou pra sempre, ouso dizer. A história é escrita pra isso, claro, tudo é orquestrado pra que te afete da mesma forma, assim como todo entretenimento, mas é aí que a minha melancolia rouba a cena: Eu não consigo só aceitar e seguir em frente, eu não consigo só permitir que aquilo seja daquela forma: eu me coloco no lugar, imagino os momentos de dor, absorvo e vivo esses momentos de dor, expando a sensação pra além dos pixels, no âmago da minha existência: Eu sou Laurentius, eu fiquei triste por eu ter te ensinado piromancia, e você ter ficado mais hábil nela do que eu em décadas, e a frustração de não conseguir alcançar seus feitos, me fez literalmente desistir da minha existência imortal. Eu sou um monstro preso em um quadro porquê meus genitores achavam que eu ia destroná-los, e pra minha existência você é só mais um dos mosntros que não consegue permitir que eu fique viva. Eu vivi isso tudo, de uma maneira torta, pesada, abafada em névoa e muito, muito amarga. 

E isso não migalhas; prévias do turbilhão de falta de senso de realidade que gira eternamente na minha cabeça, fazendo um liquidificador do resto de cérebro que eu tenho. 

Agora, Robin Hobb. A saga do aprendiz de assassino são apenas 3 livros, mas o universo expandido é muito maior, acho que agora com 15 livros e alguns personagens intercalados, e eu não consegui sobreviver aos 3 primeiros. A história do Fitz é incrível, mas eu li esses livros no pior momento psicológico possível, creio. Li os 3 muito rápido até, mas é uma história que não perdoa. São pouquíssimos momentos de paz pro protagonista, até as últimas páginas. E eu não consegui aceitar que ele não ficou com quem ele queria. Romance sempre foi tabu pra mim, afinal eu, desde novo, achei que ia salvar uma princesa de um dragão numa torre, e quando vi que não existem princesas a serem salvas na vida real, meu propósito ruiu, eu não sei lidar com o amor real, não sei coexistir, não aprendi a gostar. Agora as cicatrizes que restaram são fundas demais, e eu só vejo o abismo me olhando de volta. Então eu vivo "vicariamente" (porra de palavra fdp) esse romance fantasia em todas as minhas histórias, já que eu participo e respiro dentro de cada letra que eu leio. 

Pra eu não me cortar denovo com essa memória afiadíssima, saibam apenas que o protagonista depois de se perder meses numa montanha de neve pra tentar salvar o reino, consegue vencer e pensa em voltar pra casa, e quando faz isso tem a visão da mulher da sua vida na cama com seu melhor amigo já que eles acham que ele tá morto. 

Eu não tenho maturidade, não tenho vivência, não sei a peça que me falta pra poder digerir isso. Na descrição dessa cena, eu fechei o livro, e chorei tanto, chorei tanto, pensei nos meses gelados, em tudo que ele se estragou, na força que ele buscou desse relacionamento pra tentar ficar vivo, em como ele baseou a sua própria existência, na dependência dela, pra assistir de camarote tudo desabar, quando finalmente tudo poderia dar certo. Não só tropecar na linha de chegada, mas infartar e sofrer como um peixe fora dágua olhando pro objetivo, ao alcance das mãos, e ao mesmo tempo, agora inalcançável. 

A cicatriz ta na minha alma, mais uma pra coleção. E é isso, eu não tenho filtro, não sei nem como começar a conversar sobre isso, em como chegar em um consenso, analisar essa situação, não dá. é só dor, dor e dor. 

Eu nem sei mais aonde eu queria chegar com esse texto, eu acho que só precisava desabafar. Coração tá transbordando tem um tempo e nada passa. Nada e nada, denovo e denovo. 

I just wish I was


quarta-feira, 5 de março de 2025

80 days

 I still cant believe, how much time that is

I didnt suffer for all of that, mostly the end

but how can I keep this up? 80 days, to process a 4 hour interaction

a couple phrases, few words in between

in context, it seems like nothing happened

but for my heart it was almost three months

of expectation, anxiety, fear, limerence

its so hard to put that on perspective

is that the cost of rejection?

is that how much time my heart needs to throw itself on the bottom of that well, again?

I see and feel only dark

Its been a while since Ive been this low

I thought, I dared, for a while, that i wouldnt feel like this again

I was flying, I did not believe I could fly again

This rollercoaster already killed me

I feel only bad

I want it all to stop

Just let me here with my roots and my water, and my indifference

i want to let it go

segunda-feira, 3 de março de 2025

O sangue é espesso demais

 Eu não vou passar isso pra frente

Eu nunca vou esfregar na sua cara

o quâo inútil você foi

a dor que você me causou

quanto você custa

tudo que eu não gostaria de ter que fazer por você

seu peso

seu desconforto

o desânimo que sua existência me causa

como suas roupas me incomodam

como seu jeito de pensar me incomoda

como meus mal tratos te moldaram, e agora você me machuca só existindo

Eu nunca vou precisar passar por isso

você não pode existir, nunca

Eu não quero fazer você sofrer

Não desse jeito, nunca desse jeito, nunca enquanto eu existir

É a menor das bênçãos

O mínimo

Não precisa me agradecer

Pode deixar que eu vou chorar bastante por você

domingo, 23 de fevereiro de 2025

Aniversário 36

 medo terror desespero gritaria generalizada caos abismo frio na barriga

a montanha russa parou de subir tem um tempo bom já, mas essa sensação constante de frio na barriga antes de começar a decida já encheu a paciência

nunca tive, sei nem o sabor

Tá vindo aí, bem rápido, e eu tô aqui, desconjuntado, não sei se pré-durante-pós depressão

Tô indo

passo a passo

Feliz aniversário, Marcelo.

domingo, 9 de fevereiro de 2025

Panegírico

Eu me assustei com os sons dos meus pés na neve. 
Uma neve seca sobre um chão duro, e um vento gélido interrompeu meus pensamentos. 
- Aonde eu...? 
Me dei por mim em meio a um horizonte infinito de branquitude e frio, o vento forçando minhas pálpebras a ficarem fechadas, o gelo ardendo meus olhos e atrapalhando minha audição. 
Em um instante pude ver um vulto, à minha esquerda, marchando com intensidade 
mas quando eu tentei segui-lo e acompanhar seus passos, esse inferno congelado me impediu 
- Espera aí, eu não consigo- 
As palavras perdiam o sentido ao sair da minha boca, eu tentava pensar pra quem eram essas palavras, quem eu estava seguindo, o porquê de estar aqui 
Ao mesmo tempo em que estas perguntas ficavam sem resposta, outras surgiam e se esvaíam 
Eu estava começando a ficar nervoso e em pânico, mas na mesma velocidade em que eu me desesperei eu me acalmei e continuei andando 
- Aqui é Gobz... 
outros vultos aparecem no meu campo de visão e desaparecem em meio a infinitude branca... 
pequenos goblins correndo, felizes, sorrindo e cantando, carregando alguém; 
uma sombra que contrasta perfeitamente com a claridade da neve, sumindo em meio a luz refletida; 
uma senhora com um sorriso morno, acena lentamente em minha direção; 
meus passos não param, não consigo deixar de me mover, minha cabeça agora procura se firmar em qualquer coisa, mas nada se fixa... 
o barulho de metal caindo no chão me tira um instante do torpor, mas quando percebo que é uma adaga, ela já está muito distante pra eu poder pegar devolta 
A quanto tempo eu estou caminhando? Horas? Meses? Anos? 
Uma minaura me oferece a mão pra eu me aninhar em seu ombro, mas eu só continuo seguindo por entre a poeira dessas visões 
Um bucaneiro falastrão chama minha atenção para flanquear os inimigos, e sorri quando eliminamos nossos adversários 
Um finntroll que parece não se importar, separa minha parte dos espólios com justiça 
Um samurai que se apegava muito á sua honra, lutando para defender a minha, que era nula 
Quem são essas pessoas? 
Porquê estas memórias parecem se despedir de mim? 
Um aperto leve no peito, a sensação quente de uma lágrima escorrendo, imediatamente interrompida pelo frio e pelo esquecimento
Uma halfling se materializa no meu caminho, seu rosto um misto de alívio e consternação 
meus passos finalmente ficam lentos, eu não escuto mais nada 
nada me abala, nada me distrai, nada me mantém 
ela pousa a mão sobre meu peito e nossas lágrimas se misturam; 
minha testa cola na dela e fechamos os nossos olhos 
eu perco o equilíbrio e espero o impacto da minha queda na neve, mas ele nunca vem 
no pó da manhã meu corpo nem chega ao chão, e se desfaz em arrependimento e rebeldia 
a única certeza que resta, é de que o inferno é pequeno demais pro que restou de mim

domingo, 19 de janeiro de 2025

Este texto é, infelizmente, repetido

 Denovo

Mais uma vez

Aconteceu denovo

Tudo dói 

Resignação é a palavra dessa vez

Não tem surpresa, não tem alternativa 

É so o que eu não queria, mas infelizmente já esperava 

Não foi dessa vez, mais uma vez, como sempre

O universo insiste em me fazer aprender

A mesma lição, repetidamente, do mesmo jeito, da mesma forma, em transe

Desista do que você quer

Desista 

A escolha é uma ilusão, o espelho sou eu

Eu fujo do seu olhar cínico, eu fujo dos seus "já sabia", me escondo do julgamento 

It's so beautiful that you tried 

But you are so tired of trying 

Exhausted 

My gears are absolutely all grinded

Gasto, apagado, desperdiçado

Sem vontade de sorrir e de cantar uma bela canção 

Quanto tempo eu vou ficar nesse buraco dessa vez

Quanto tempo eu vou mastigar esse chocolate amargo

Quanto de alma eu perdi

Denovo, mais uma vez




terça-feira, 7 de janeiro de 2025

Se ame

 Eu não lembro quando eu criei essa joça dessa playlist in a bottle do spotify, mas foi maravilhosa em várias coisas. Esse acerto de ouvir SOAD ao vivo foi o principal, mas o bilhetinho, a mensagem que eu me mandei em janeiro de 2024, pro Marcelo de janeiro de 2025, escrita com dedos trêmulos num guardanapo digital fajuto, foi essa: Se ame.


Com toda sinceridade do mundo, quando o aplicativo disse que tinha uma coisinha no fundo da garrafa, eu não fazia idéia do que seria. Supus uma playlist, alguma outra musica que sobrou, sei lá. Até aquele instante eu não me lembrava nem de ter escrito mensagem nenhuma.


Mas depois de abrir o guardanapo, e ver aqueles meus dedos trêmulos, a mensagem sobreposta, a emoção que me veio derrubou na hora. Ano passado, no geral, não foi um bom ano. E no começo deste, eu estava mais que no fundo do poço, sofrendo todas as dores, minhas e universais, tentando ainda digerir tudo que 2023 tinha feito, toda a pancadaria que rolou. Eu lembro de fazer essa playlist com a cabeça cheia de coisas, nenhuma agradável, ápice da depressão. Mas lá estava eu, pensando no futuro, coisa que eu raramente faço, e tracei, também com as lágrimas nos olhos, essa mensagem, na esperança de um futuro mais ameno, menos destrutivo. 


E cá está. Eu feliz. Eu achei que não ia viver isso denovo. Não exatamente da forma ou do jeito que eu quero, mas essas coisas não tem muito controle, não é mesmo? Elas acontecem. Meu medo é estar em mania, é estar subindo no carrinho da montanha russa pra depois tudo desabar, mas é um medo tão recluso e forçado. Eu sei como é estar respirando com um canudinho de dentro do poço da depressão, eu sei o que é sentir uma sobrevida forçada nos momentos menos piores da existência, e isso não é o que eu estou vivendo.


Vontade, auto-estima, alegria, ambição. São basicamente sentimentos novos, fazia tanto tempo que não os conhecia. Eu sei o que é rir feliz, e não rir de loucura. É desejar estar bem para o amanhã. É ter forças pra levantar da cama e querer aproveitar o dia. É não sentir vontade de sair correndo fugindo de tudo e ter preguiça ainda assim pra isso. Redescoberto, novo, vivo.


Eu realmente não achei que eu fosse viver isso denovo. Não nessa vida. Mas estou me medindo também. Não tô explodindo de sentimentalismo maluco só pra estatelar depois como sempre. Eu tô indo devagar, sentindo bem a temperatura da água, vendo onde eu coloco o pé. Ou pelo menos estou me enganando muito, muito bem. 


Se ame.

Seguimos.