Hoje eu vi no tiktok, nossa melhor fonte de conhecimento atualmente, que melancólicos são pessoas que demoram muito pra digerir emoções. Pessoas que sentem demais, e por isso, o ambiente em que vivem é absorvido de uma forma atípica.
Eu me identifiquei bem. Eu choro muito fácil, mas não é pq eu sou manteiga derretida, é pq realmente, quando a emoção bate e eu me perco ali na digestão, tudo sai pelo olho. Hoje em dia eu ando tão cheio que tudo me transborda. E lembrar de uma cena triste, é ver uma história triste, uma emoção forte, um esforço forte, tudo me leva as lágrimas. Claramente isso não é normal. Chorar assim não é normal. E eu poderia falar que é por pouca coisa, q eu choro por bobagem, mas não. Meu coração infla, o peito aperta, a lágrima é um alívio pra uma coisa que eu não consigo, realmente, literalmente, digerir. Eu não sei interpretar aquela emoção de outra forma a não ser o choro. E se eu choro ali, eu posso ter a certeza que vou ficar remoendo o que quer que seja, por muito tempo.
Pelo que eu escrevo aqui, dá pra ver claramente o quão quebrado emocionamente eu sou, mas eu fico pensando muito, aonde isso começou? Onde foi que meu termômetro estragou, que meu estômago de emoções parou de funcionar?
A depressão me veio silenciosa e mortífera. Quando eu percebi que estava me isolando, não queria conversar nem fazer nada, só deitar e me deixar apodrecer, quase foi muito tarde. E nessa fossa, eu tomei muitos chutes simultâneos na costela, pra eu lembrar sempre que tudo pode piorar. Eu literalmente perdi minha vida, tudo mudou, a forma de viver, de interagir, de existir. De um dia pro outro nada era a mesma coisa, e tudo era amargo e afiado.
Mas caindo no poço ainda, quando eu não tinha idéia das paredes que velozmente me cercavam e me enterravam na terra, eu reconheço bem dois chutes: Dark souls e O aprendiz de assasssino; Robin Hobb, eu nunca vou te perdoar pelo que você me fez pensar.
Começando por Dark souls, em um gameplay extremamente longe de ser divertido com meus até então amigos, eu me peguei entalado com alguns pontos que claramente eu não digeri até hoje. Dark souls trata, e eu vou tentar falar sobre isso aqui bastante superficialmente e na minha visão pessoal, sobre como a falta de propósito destrói nossa alma.
Desde o primeiro momento de entendimento, quando nosso personagem vê isso acontecendo com as pessoas ao redor, aquilo me amargurou pra sempre, ouso dizer. A história é escrita pra isso, claro, tudo é orquestrado pra que te afete da mesma forma, assim como todo entretenimento, mas é aí que a minha melancolia rouba a cena: Eu não consigo só aceitar e seguir em frente, eu não consigo só permitir que aquilo seja daquela forma: eu me coloco no lugar, imagino os momentos de dor, absorvo e vivo esses momentos de dor, expando a sensação pra além dos pixels, no âmago da minha existência: Eu sou Laurentius, eu fiquei triste por eu ter te ensinado piromancia, e você ter ficado mais hábil nela do que eu em décadas, e a frustração de não conseguir alcançar seus feitos, me fez literalmente desistir da minha existência imortal. Eu sou um monstro preso em um quadro porquê meus genitores achavam que eu ia destroná-los, e pra minha existência você é só mais um dos mosntros que não consegue permitir que eu fique viva. Eu vivi isso tudo, de uma maneira torta, pesada, abafada em névoa e muito, muito amarga.
E isso não migalhas; prévias do turbilhão de falta de senso de realidade que gira eternamente na minha cabeça, fazendo um liquidificador do resto de cérebro que eu tenho.
Agora, Robin Hobb. A saga do aprendiz de assassino são apenas 3 livros, mas o universo expandido é muito maior, acho que agora com 15 livros e alguns personagens intercalados, e eu não consegui sobreviver aos 3 primeiros. A história do Fitz é incrível, mas eu li esses livros no pior momento psicológico possível, creio. Li os 3 muito rápido até, mas é uma história que não perdoa. São pouquíssimos momentos de paz pro protagonista, até as últimas páginas. E eu não consegui aceitar que ele não ficou com quem ele queria. Romance sempre foi tabu pra mim, afinal eu, desde novo, achei que ia salvar uma princesa de um dragão numa torre, e quando vi que não existem princesas a serem salvas na vida real, meu propósito ruiu, eu não sei lidar com o amor real, não sei coexistir, não aprendi a gostar. Agora as cicatrizes que restaram são fundas demais, e eu só vejo o abismo me olhando de volta. Então eu vivo "vicariamente" (porra de palavra fdp) esse romance fantasia em todas as minhas histórias, já que eu participo e respiro dentro de cada letra que eu leio.
Pra eu não me cortar denovo com essa memória afiadíssima, saibam apenas que o protagonista depois de se perder meses numa montanha de neve pra tentar salvar o reino, consegue vencer e pensa em voltar pra casa, e quando faz isso tem a visão da mulher da sua vida na cama com seu melhor amigo já que eles acham que ele tá morto.
Eu não tenho maturidade, não tenho vivência, não sei a peça que me falta pra poder digerir isso. Na descrição dessa cena, eu fechei o livro, e chorei tanto, chorei tanto, pensei nos meses gelados, em tudo que ele se estragou, na força que ele buscou desse relacionamento pra tentar ficar vivo, em como ele baseou a sua própria existência, na dependência dela, pra assistir de camarote tudo desabar, quando finalmente tudo poderia dar certo. Não só tropecar na linha de chegada, mas infartar e sofrer como um peixe fora dágua olhando pro objetivo, ao alcance das mãos, e ao mesmo tempo, agora inalcançável.
A cicatriz ta na minha alma, mais uma pra coleção. E é isso, eu não tenho filtro, não sei nem como começar a conversar sobre isso, em como chegar em um consenso, analisar essa situação, não dá. é só dor, dor e dor.
Eu nem sei mais aonde eu queria chegar com esse texto, eu acho que só precisava desabafar. Coração tá transbordando tem um tempo e nada passa. Nada e nada, denovo e denovo.
I just wish I was