Comecei a ouvir ecos dos seus questionamentos: "Você vai derrubar, por favor, segure com cuidado", "Por favor, o vidro não tem apoio, segure-o bem". Eu olho pras minhas mãos e as vejo intactas, imaculadas, mas uma sensação de culpa as fecha.
Uma inquietude permeia meu peito, e eu questiono atrasado:
"O que aconteceu? Eu realmente deixei cair?"
"Eu queria deixar cair?"
Por impulso, eu olho pra trás, em suplício, pedindo ajuda a um deus oco, e sou abençoado com nada. Em uma frustrante tentativa de impedir o presente, o medo borbulha no estômago, imediato, incômodo, amargo.
A mente acelera pra tentar entender, figuras passam pelos meus olhos. Eu tinha a poção em mãos. Eu só precisava segurar. Você não está mais na minha frente. O que era inquietude agora claramente é desespero: meus olhos brotam água, o silêncio se assenta em todo meu corpo. "Eu não queria".
Palavras que não alcançam ouvido algum, ainda podem significar algo?
No chão já não sobra nada que não seja vidro e sangue. Das minhas mãos culpadas, tentando reverter o passado, engasgo mais palavras, procurando você, que ainda deveria estar aqui.
Finalmente vejo a porta aberta, e percebo que você partiu a muito, muito tempo. O vento me abraça e pede clemência em meu nome... o norte nega.
A pior tempestade ainda está por vir
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