segunda-feira, 23 de dezembro de 2024

Set in stone

 Muito educada, muito pontual. Numa tranquilidade invejavel, um afago nas mãos, e uma negativa.


Agora seguimos em frente.


Quando eu paro pra fazer uma análise da minha dificuldade em seguir em frente com as minhas emoções, esta é a maior delas: Quando eu tenho algum sentimento, ele foi cultivado, regado, crescido, é viscoso, espesso, gruda, não sai com água, e demora, demora, demora pra dissolver. O ciclo tem sido esse. O sentimento some, o deserto volta, desespero, tristeza, desesperança, e então a semente vem, no absoluto meio do meu deserto de sentimentos, e lá nasce uma árvore de mana, a maior de todas as árvores, com raízes tão profundas quanto eras neste planeta. E de tudo que essa árvore me proporciona, seus infinitos benfeitos para minha alma, ela é dependente e paralela a reciprocidade. 

Quando não existe esta recíprocidade, lá vamos nós, com um garfo, derrubar uma árvore de milênia. Eu sou exagerado demais, mas eu não me engano. Essa insônia, esse desconforto, são amigos próximos, que vão me rondar durante esse tempo necessário pra destruir o que criei de belo nesse deserto.

Me surpreende quando outras pessoas me dizem a simplicidade que é fazer isso, a simplicidade que é seguir em frente, a facilidade com que esquecem. Eu passo por maratonas, escalo montanhas, canto óperas, choro rios, e a árvore persiste. A dor persiste. Eu sei que um dia ela vai cair, como todas as outras, e servirá de adubo pra próxima, talvez, mas agora, cada vez mais, eu tenho ciência que meu tempo para cultivar essas árvores está acabando. Não tenho muitas mais no meu âmago. Se é que eu até terei outra. Todas as vezes que derrubo eu acho que nunca mais, mas isso também já me provei que não dá certo. Mas o desespero do tempo, o bater das horas agora está mais amargo, mais iminente. 

Eu escrevo esse aqui, ainda debaixo da sombra desta; um momumento gigante, e que me surpreende todos os dias com o seu tamanho. Mas é cruel demais, tudo isso, todo esse esplendor, pra nada. 

Pra nada é mais um exagero, a auto-piedade fortíssima que me aflige, mas poxa vida. É bem triste. Mas seguimos, Não morri tanto dessa vez. Não caí. Tô apto. Só sinto que não tenho mais tempo.

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