Uma neve seca sobre um chão duro, e um vento gélido interrompeu meus pensamentos.
- Aonde eu...?
Me dei por mim em meio a um horizonte infinito de branquitude e frio, o vento forçando minhas pálpebras a ficarem fechadas,
o gelo ardendo meus olhos e atrapalhando minha audição.
Em um instante pude ver um vulto, à minha esquerda, marchando com intensidade
mas quando eu tentei segui-lo e acompanhar seus passos, esse inferno congelado me impediu
- Espera aí, eu não consigo-
As palavras perdiam o sentido ao sair da minha boca, eu tentava pensar pra quem eram essas palavras,
quem eu estava seguindo, o porquê de estar aqui
Ao mesmo tempo em que estas perguntas ficavam sem resposta, outras surgiam e se esvaíam
Eu estava começando a ficar nervoso e em pânico, mas na mesma velocidade em que eu me desesperei
eu me acalmei
e continuei andando
- Aqui é Gobz...
outros vultos aparecem no meu campo de visão e desaparecem em meio a infinitude branca...
pequenos goblins correndo, felizes, sorrindo e cantando, carregando alguém;
uma sombra que contrasta perfeitamente com a claridade da neve, sumindo em meio a luz refletida;
uma senhora com um sorriso morno, acena lentamente em minha direção;
meus passos não param, não consigo deixar de me mover, minha cabeça agora procura se firmar em qualquer coisa, mas nada se fixa...
o barulho de metal caindo no chão me tira um instante do torpor, mas quando percebo que é uma adaga, ela já está muito distante pra eu poder pegar devolta
A quanto tempo eu estou caminhando? Horas? Meses? Anos?
Uma minaura me oferece a mão pra eu me aninhar em seu ombro, mas eu só continuo seguindo por entre a poeira dessas visões
Um bucaneiro falastrão chama minha atenção para flanquear os inimigos, e sorri quando eliminamos nossos adversários
Um finntroll que parece não se importar, separa minha parte dos espólios com justiça
Um samurai que se apegava muito á sua honra, lutando para defender a minha, que era nula
Quem são essas pessoas?
Porquê estas memórias parecem se despedir de mim?
Um aperto leve no peito, a sensação quente de uma lágrima escorrendo, imediatamente interrompida pelo frio e pelo esquecimento
Uma halfling se materializa no meu caminho, seu rosto um misto de alívio e consternação
meus passos finalmente ficam lentos, eu não escuto mais nada
nada me abala, nada me distrai, nada me mantém
ela pousa a mão sobre meu peito e nossas lágrimas se misturam;
minha testa cola na dela e fechamos os nossos olhos
eu perco o equilíbrio e espero o impacto da minha queda na neve, mas ele nunca vem
no pó da manhã meu corpo nem chega ao chão, e se desfaz em arrependimento e rebeldia
a única certeza que resta, é de que o inferno é pequeno demais pro que restou de mim
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