sábado, 6 de dezembro de 2025

Cru

 Esse vai na língua mãe mesmo

Raiva, raiva seca, raiva íntima, raiva nojenta

Muita raiva

Amarga, ácida, revoltante

Minha, infinitesimalmente minha

Um âmago torto, vontade minguante

Mas o que me estressa e tira o sono, é essa ironia disfarçada de alegria

Essa energia caótica com um rumo desenfreado

Esquisito toda vida, floresta a dentro, soslaio detrás da árvore 

Eu aquaplanei, pelo amor de deus

Quase fui de base

E gargalhei, ri até ficar sem ar, chorei de absoluta loucura

Cantei! Gritei!

Você me vem no fogo cruzado, 

Numa incapacidade de sofrer só 

Novamente numa vontade de aquecer 

Acolher, permear, abraçar

Mas por quê tem que ser tão difícil?

Por quê isso o que me aperta, não sana com nada

Nas armadilhas das paredes que eu mesmo 

Nos seus olhos embargados, nas lágrimas sujas de rímel e amargas da maquiagem

Olha a volta que eu dei, onde eu estive

Essa memória que explodiu do pré sal da minha alma

Minha psiquê, já em frangalhos, ainda colando os cacos da razão, todos tortos, opacos

Rachados mais que existentes

Mais buraco do que matéria 

A inveja, meu deus!

Que inveja odiosa

Que sensação monstruosa, roteiro de ficção 

Dramalhão banana

Quando eu disse aquelas palavras, meu mundo era tão diferente

A tradução agora é quase alienígena

Sentimentos que não existem mais, incapazes de se fazer vivos

E de todo meu pudor exposto, meu coração bélico 

O sorriso amarelo, a vergonha por trás da negação velada

Um golpe final desesperado, que falha crítica 

Quando a última carta não é suficiente, quando a força desiste

Como podemos nos recuperar? 

Como sacudir a poeira e seguir ainda, com toda dor, todas as dúvidas 

Talvez eu tenha perdido ele ali

E de alguma forma inconcebível, de propósito 

Esquecida por trás do trauma

Recuperada das profundezas por essa raiva 

Obcena

Eu te esqueci, de todas as formas

Você não existe, não da forma que as pessoas acham que eu me lembro

Mas esse sentimento que a raiva trouxe 

Essa memória que invadiu a cavidade e quase, quase expulsou ele de lá 

Foi o golpe mais baixo que eu me dei esse fim de ano

Que o seu sorriso, seja essa bandeira odiosa

E que essa raiva cínica continue me abastecendo 

A vontade que vem é de viver, de atropelar

Eu continuo rindo do abismo

Às vezes, chutando essa calma

Às vezes, preocupado

Que venha essa tsunami

Expedition 37