Esse vai na língua mãe mesmo
Raiva, raiva seca, raiva íntima, raiva nojenta
Muita raiva
Amarga, ácida, revoltante
Minha, infinitesimalmente minha
Um âmago torto, vontade minguante
Mas o que me estressa e tira o sono, é essa ironia disfarçada de alegria
Essa energia caótica com um rumo desenfreado
Esquisito toda vida, floresta a dentro, soslaio detrás da árvore
Eu aquaplanei, pelo amor de deus
Quase fui de base
E gargalhei, ri até ficar sem ar, chorei de absoluta loucura
Cantei! Gritei!
Você me vem no fogo cruzado,
Numa incapacidade de sofrer só
Novamente numa vontade de aquecer
Acolher, permear, abraçar
Mas por quê tem que ser tão difícil?
Por quê isso o que me aperta, não sana com nada
Nas armadilhas das paredes que eu mesmo
Nos seus olhos embargados, nas lágrimas sujas de rímel e amargas da maquiagem
Olha a volta que eu dei, onde eu estive
Essa memória que explodiu do pré sal da minha alma
Minha psiquê, já em frangalhos, ainda colando os cacos da razão, todos tortos, opacos
Rachados mais que existentes
Mais buraco do que matéria
A inveja, meu deus!
Que inveja odiosa
Que sensação monstruosa, roteiro de ficção
Dramalhão banana
Quando eu disse aquelas palavras, meu mundo era tão diferente
A tradução agora é quase alienígena
Sentimentos que não existem mais, incapazes de se fazer vivos
E de todo meu pudor exposto, meu coração bélico
O sorriso amarelo, a vergonha por trás da negação velada
Um golpe final desesperado, que falha crítica
Quando a última carta não é suficiente, quando a força desiste
Como podemos nos recuperar?
Como sacudir a poeira e seguir ainda, com toda dor, todas as dúvidas
Talvez eu tenha perdido ele ali
E de alguma forma inconcebível, de propósito
Esquecida por trás do trauma
Recuperada das profundezas por essa raiva
Obcena
Eu te esqueci, de todas as formas
Você não existe, não da forma que as pessoas acham que eu me lembro
Mas esse sentimento que a raiva trouxe
Essa memória que invadiu a cavidade e quase, quase expulsou ele de lá
Foi o golpe mais baixo que eu me dei esse fim de ano
Que o seu sorriso, seja essa bandeira odiosa
E que essa raiva cínica continue me abastecendo
A vontade que vem é de viver, de atropelar
Eu continuo rindo do abismo
Às vezes, chutando essa calma
Às vezes, preocupado
Que venha essa tsunami
Expedition 37