Quando eu abri minha caixa torácica
um esforço moderado, confesso
Me surpreendi mais com a poeira
do que com meu sangue morno
Após o estalo ósseo inicial
no silêncio, ansioso pelo tesouro
dava até pra ouvir as batidas
mas se confundiam com meu ranger de dentes
Um coração lá, encaixado
sobrevivendo de água, luz e talvez fúria
uma vontade distinta, minguante
Alienígena
Não era o meu
ainda perdido a mortes atrás;
Quando o delírio passou
voltei a me surpreender com a sua expressão
se antes era exasperada
Curiosa
agora era apenas desdém
"Eu só queria saber como você
ainda funcionava, nesse estado
bem patético, por sinal"
A dor não me espanta mais
meus músculos tremendo pelo esforço
o sangue já quase gelado
Eu me fecho
evito por um milagre um desmaio
mas sorrio
"Eu já sabia", minto;
"Quando você sair, por favor
tranque a porta".
Eu não me importo,
tanto assim de me mostrar;
Eu acho que não me importo,
de estar em uma sobrevida confusa;
Eu realmente não me importo,
se tem como me machucar mais;
E não vou nunca, deixar de me importar
se já morri
porque não
denovo, mais uma vez
Ao vento, ao norte, ao carvão
Às minhas cinzas
Às brasas mornas da minha forja
Às lágrimas que não vão pro meu rosto
Às palavras que não passam da garganta
À dor que não transparece na íris
"Quem sabe da próxima vez"
Suas costas já parecem mais acolhedoras
Do que seu abraço.
De qualquer forma
Obrigado mais uma vez
Não volte sempre
Tente me esquecer
A sua tatuagem está atrás do meu pulmão
Se eu não olhar lá
Não vou pensar em você
Hoje, agora, deitado, na cama
Nem depois, repetindo
Leve-se de mim
Na cabana solitária, meu ego me ensina
Onde foi que eu errei
Por quê eu acreditei
Como eu deixei me levar
Sozinho, denovo
Com sombras, luzes e fumaça
Fogo fátuo
Dessa vez eu não sorrio mais;
Mas em outra sombra revisitada eu vejo
Seus galhos retorcidos
Seus olhos de lua
A terra por entre seus tendões
Seu braço, me apontando ao buraco
"Você deveria ter ficado aqui"
ode il delirium
mors corpori est colossus
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