Pro meu descontentamento generalizado, tenho reparado que meu vazio tem se preenchido, frequentemente, de uma multitude de coisas diferentes. Os dias que se aceleram cada vez mais, são marcados por detalhes amargos da minha psique.
Tem dias que meu vazio se enche de saudade. Não são os piores dias, mas a nostalgia e a esperança à muito não trazem sorrisos. Sorriso esse seu, que me vem. Seu abraço. Suas palavras. Sua surpresa. Todas as lágrimas. Quando eu me encho de saudade, eu flutuo pelo dia, temendo o momento da queda, que vem sempre como uma explosão, me estatela no solo e me obriga a continuar.
As vezes eu sou raiva. Bastante difícil conviver com a raiva, uma parceira antiga. Fonte de vários aborrecimentos, desapontamentos, frustrações. Ela me vem fácil. Tão fácil que me deixa encabulado. Ela se desmonta dentro de mim e domina meu peito. As rédeas são muito, muito curtas, fruto desses anos de dor e desleixo. Quando eu sou raiva, eu foco em mim. As vezes eu me escapo pela garganta, mas o ostracismo vem logo depois. Eu não acredito que minha raiva seja de um lugar natural, que ela tenha se desenvolvido comigo, que ela seja, de uma maneira bem simplista, minha. A raiva é, sem sombra de dúvidas uma maldição imbutida no meu sangue, eu não a vejo somente no espelho, eu vejo nos olhos ao meu redor, vejo na escrita de todos os dias, vejo nos dentes a minha volta, na forma como a comunicação é deliberadamente cruel e vingativa.
A maioria dos dias, volto a ser vazio. Nos dias vazio, para minha modesta surpresa, sou fluído. Como uma onda no mar. Uma maré de gostos e dissabores, enforcado pelo meu ego descalibrado. Fico como uma canaleta, assimilando meu entorno e navegando por mares de insensatez. Sendo percorrido e lavado pelas águas da opinião alheia, tentando não me marcar.
Nos raros, raros dias em que sou amor, eu não me reconheço mais. Sem controle a emoção não só toma conta como desbalanceia minha vida. Ou sou todo esse amor, ou sou toda essa frustração, não consigo direcionar esse amor pra mim mesmo, vaza demais, e nas minhas desilusões o resultado é sempre o mesmo. "Aquele que tem medo dos espinhos, não merece a rosa", essa frase me pegou muito desprevinido, e me deixou pasmo com o quanto ela me definiu. Uma covardia tosca, um medo pífio, mas que pra mim é anulador de vontade.
A questão agora é que a constante é de loucura. Não consigo me coordenar, me encher, aprender e seguir. Tudo que chega vai embora, se pelas rachaduras, se pela expulsão, nada fica. Continuo perdido vagando pelo deserto que criei. Não tomo a água que tenho, pois o seu amargor terminaria de me sacrificar. Eu fico apenas na torcida, pelos dias que sou cheio de indiferença.
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