Eu não lembro quando eu criei essa joça dessa playlist in a bottle do spotify, mas foi maravilhosa em várias coisas. Esse acerto de ouvir SOAD ao vivo foi o principal, mas o bilhetinho, a mensagem que eu me mandei em janeiro de 2024, pro Marcelo de janeiro de 2025, escrita com dedos trêmulos num guardanapo digital fajuto, foi essa: Se ame.
Com toda sinceridade do mundo, quando o aplicativo disse que tinha uma coisinha no fundo da garrafa, eu não fazia idéia do que seria. Supus uma playlist, alguma outra musica que sobrou, sei lá. Até aquele instante eu não me lembrava nem de ter escrito mensagem nenhuma.
Mas depois de abrir o guardanapo, e ver aqueles meus dedos trêmulos, a mensagem sobreposta, a emoção que me veio derrubou na hora. Ano passado, no geral, não foi um bom ano. E no começo deste, eu estava mais que no fundo do poço, sofrendo todas as dores, minhas e universais, tentando ainda digerir tudo que 2023 tinha feito, toda a pancadaria que rolou. Eu lembro de fazer essa playlist com a cabeça cheia de coisas, nenhuma agradável, ápice da depressão. Mas lá estava eu, pensando no futuro, coisa que eu raramente faço, e tracei, também com as lágrimas nos olhos, essa mensagem, na esperança de um futuro mais ameno, menos destrutivo.
E cá está. Eu feliz. Eu achei que não ia viver isso denovo. Não exatamente da forma ou do jeito que eu quero, mas essas coisas não tem muito controle, não é mesmo? Elas acontecem. Meu medo é estar em mania, é estar subindo no carrinho da montanha russa pra depois tudo desabar, mas é um medo tão recluso e forçado. Eu sei como é estar respirando com um canudinho de dentro do poço da depressão, eu sei o que é sentir uma sobrevida forçada nos momentos menos piores da existência, e isso não é o que eu estou vivendo.
Vontade, auto-estima, alegria, ambição. São basicamente sentimentos novos, fazia tanto tempo que não os conhecia. Eu sei o que é rir feliz, e não rir de loucura. É desejar estar bem para o amanhã. É ter forças pra levantar da cama e querer aproveitar o dia. É não sentir vontade de sair correndo fugindo de tudo e ter preguiça ainda assim pra isso. Redescoberto, novo, vivo.
Eu realmente não achei que eu fosse viver isso denovo. Não nessa vida. Mas estou me medindo também. Não tô explodindo de sentimentalismo maluco só pra estatelar depois como sempre. Eu tô indo devagar, sentindo bem a temperatura da água, vendo onde eu coloco o pé. Ou pelo menos estou me enganando muito, muito bem.
Se ame.
Seguimos.