quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

Solidão

 A sensação do não pertencimento, e o doce sabor da solidão. A escolha de preferir ficar sozinho a ter que lidar com a dor da presença do outro. O dilema do porco espinho todos esses anos depois. A não vontade, o desandar, a preguiça completa de conviver e conversar e querer saber. A vontade ainda de ser questionado, de ter apoio, mas preferir se abster, se deixar tomar pela preguiça, deixar o medo e a insensatez pilotarem o processo.

Eu estou gasto. Consegui o que queria hoje, mas o que ganhei foi uma pá no peito, que só retirou ainda mais do que não existia. Como é possível querer absorver alguma coisa e perder tanto; Esse vazio aqui dentro, de tão comum e facilmente reconhecido, agora parece outra criatura, mais vazia, mais gasta, ainda mais carente. 

Um absurdo psicológico completo, uma loucura na beirada, um abismo inominável, a certeza da completa falta de noção, a dúvida irrevogável da existência!!! Sinto como se eu esvaziar meus pulmões gritando, de nada adiantaria, nenhuma árvore na floresta ouviria, a dor seria desperdiçada nas cordas vocais machucadas.

Eu estou acostumado a me perder todos os dias, mas eu não estou nem de parabéns dessa vez. Eu deliberadamente me arrisquei, joguei o resquício de mapa fora, pulei de ponta na escuridão, mergulhei sem equipamento nesse oceano de nada, nada, NADA,

Nada.

Nada me traz paz. Nada me traz conforto. O riso me traz ironia. A gargalhada me beija loucura. Os resquícios, as sobras, as sombras, esse cheiro, essas cinzas. Sou eu escancarado nesse céu marcado, denovo. A lua me levou e esqueceu de buscar. Os ossos perdidos na terra podre do não querer.

Hoje eu venci. Venci minha vontade e cumpri com minhas necessidades. As dores que isso me trouxe serão inesquecíveis. 

Aqui jaz.

Um ser humano que se achava vazio, mas tinha um calor ímpar, um sorriso fácil e uma empatia amaldiçoada. Uma dor que se alastrava pelo seu ser, intankável. Um ser humano indestrutível em sua estupidez. Empacado em suas crenças e sem vontade de ler. Abandonado pelos seus hobbies, abraçado pelo seu egoísmo, dominado pela sua soberba.

Cego por beleza.

Beleza essa sem tradução, beleza essa sem mérito, beleza essa insípida na sua língua.

Abençoado pela mentira na sua mais pura forma.

Santificado pelo seu ego.

Acalentado pelo seu desentendimento.


Que assim seja, por mais areia, por mais feno, por mais serragem pra tampar os buracos.

Que as rachaduras continuem batendo e quebrando e desperdiçando sulco,

Ilusório em sua existência.