sexta-feira, 20 de novembro de 2020

Crônicas de um Bardo e um Ranger

O bardo estava tentando beber seu vinho, já razoavelmente quente.

Sua expressão inabalável, um tédio supremo e dominante. Seus olhos focavam o nada, como se buscassem uma razão para estar ali. O tempo corria estranhamente devagar. Os sons se misturavam e se confundiam, pessoas rindo, gritando, cantando, pedindo, explicando...

"...mas cara, tah me escutando? Essa é a nossa chance!!! Vai ser moleza por inteiro! O trabalho é simples  você pode só me dar uma ajudinha com os guardas e tcham! Ehlonna vai nos recompensar!"

"..."

O vinho quente era tão atrativo, tão saboroso, que a vontade de se deixar levar e ser dominado por aquele sabor acre e seco era imensa.

Um suspiro de derrota se seguiu. Já faziam três semanas desde que se hospedaram na taberna.

Ao infinito, e além

A cabeça dele deslizou sobre os ombros dela, e voltou ao lugar rapidamente. Um movimento bastante brusco, mas que ela ignorou.

 - Desculpe, acho que estou ficando sonolento...

Ela não quis dizer nada. Simplesmente passou a mão pela nuca dele, e fixou a cabeça dele de forma confortável no seu corpo.

 - ... Mas esse pôr do sol está realmente diferente... você se lembra da última vez que vimos... o pôr do sol assim? Não exatamente dessa forma que estamos agora... Mas quando olhamos para ele, e podíamos apenas nos preocupar com sua beleza, com seu significado, e apenas isso... Eu não consigo me lembrar...

Seus olhos estavam mareados. Na sua cabeça, as lembranças passavam na velocidade da luz, e ela se lembrava de cada toque, cada sorriso, cada expressão, mas tudo se perdia em sua mente. Ela sabia que se falasse algo, ela começaria e não conseguiria mais parar de chorar. Um som pequeno, muito abafado, saiu de sua garganta. Ela fechou os olhos, e segurou o corpo dele mais firmemente. Como se ao fazer pressão, ela conseguisse prolongar aquele momento ainda mais.

 - ... Me desculpe.

Ao ouvir essas palavras, os olhos dela se abriram. Não podia ser possível.

 - Eu... não queria que nossa próxima conversa tivesse que... ser assim. Eu acho que isso acaba dificultando as coisas pra mim... e principalmente pra você... Mas eu... não poderia ser diferente. Eu não podia...

Ela colocou a mão na boca dele. Ela não queria que ele falasse nada. Estava falando demais, e ele tinha que poupar forças. Logo o socorro já estaria aqui, e tudo acabaria bem. Uma voz na cabeça dela já dizia que a esperança era inútil. Não havia como acabar bem. Ele havia perdido sangue demais. Ela tinha certeza de que o estado dele era bem mais grave do que ele aparentava. Engraçado como ele sempre parece ser mais forte do que é, mesmo nesse estado.

 Ele retirou a mão dela do rosto lentamente.

- Sabe... Eu ainda penso em como poderia ter sido... diferente?... Eu sei que é muito egoísmo mas... como eu poderia me forçar a simplesmente esquecer...

E aí?

 Eu acho que eu escrevia mais, quando eu sofria mais. Dor de cotovelo, falta de carinho, dores do coração... minha inspiração se foi quando o amor entrou fundo no meu peito. Eu fiquei sem motivo pra reclamar, e sem motivo pra escrever. Já ouvi dizer que a fonte do blues era a dor, e eu acho que passei por isso. Jovem, eu adorava me dar pena. Eu não sei, acho que era minha forma de validação. A sofrência sempre foi algo forte na minha vida, de escolha de músicas, áudiovisual, o que seja. Freud explica. 


Eu sempre tenho tanta coisa na minha cabeça, tanta coisa sempre pronta pra escrever, mas eu nunca dou essa liberdade pras palavras. Elas gostam de ficar nadando na piscina do meu cérebro, até afogarem e eu perdê-las pra sempre. Uma ou outra fica boiando, mas incompleta. Eu queria muito conseguir escrever pra viver. Eu gosto muito, mas pelo visto não o suficiente auehaueuae


Eu me perco pelos meus posts aqui, apesar de gostar deles, as vezes eu me perco no personagem. A gente não deve ficar se comparando com quem era a 10 anos, mas meu deus. Nem foi tanta vida que passou, tanta coisa que mudou, mas a mudança é um acidente automobilistico. De onde vinham essas idéias, essas dores, essas vontades! Eu me pego abismado. Morrendo de saudades, mas chocadíssimo.