sábado, 2 de outubro de 2021

De volta as cinzas

Eu não vejo mais, as horas iguais.


Meu tempo parou, o sangue como mogno dentro do corpo, agora gelado.

Sem ritmo, timbre ou melodia. Cada passo um osso quebrado. Cada suspiro, poeira de vidro.

Se antes eu não sabia o que fazer, o que me resta agora? Se desconhecer o caminho invisível já era dolorido, agora sem nem mais vontade de caminhar, para onde eu vou olhar?

As ondas começaram tarde. As vozes nunca mais se calaram na minha cabeça. Todos gritos, desconjuntes, ilógicos, amargos e urgentes. O conhecido processo de ignorância permeia numa névoa que parece querer nunca mais dissipar. 

Eu não terei forças pra navegar essa tempestade. O corpo dói sem esforço. O que me foi retirado sustentava todo o processo. Não existe mais nada aqui dentro.


Eu não vejo mais, as horas iguais.

Um comentário:

  1. De todas as insanidades que de alguma maneira nos permeiam, tudo parece sim nos levar pro oblivio..mas existe algo que nos faz permanecer.
    curiosamente, existe esse espaço da realidade que nos faz seguir. algo que nos faz seguir para uma festa e rir, esquecendo do mundo.
    Nao faz sentido, mas ao mesmo tempo nos completa, preenche nossas formas de uma agua da Lua.

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